quarta-feira, 15 de novembro de 2023

Medida perfeita


 

 Das cinco calças compradas na promoção essa era a maior. Já no dia, depois de rápida prova, constatei que ficava larga na cintura ... e em todo o resto. Comprei. Das peças, essa era a que se destacava por ser diferente. Um jeans manchado. Passaram-se dois anos da compra. Eu, com sete quilos a menos, resolvo utilizar a calça pela segunda vez. Com a função de um cinto e a dobra manual da bainha para o lado de dentro, certifiquei que a calça servia perfeitamente. Vi-me em diferença através de outras dobras.

sábado, 4 de setembro de 2021

Desculpa, Sebástian...

 Sebástian mora no mesmo prédio. Vez ou outra nos encontramos na recepção ou no elevador. Lugares públicos do condomínio. Nãos nos visitamos. Ele, sempre altivo e falante, comenta da vida e pergunta-me coisas, demonstrando curiosidade.


Escuto o que tem a dizer. Respondo de forma econômica suas indagações. Seu interesse em compartilhar me comove. Não o suficiente para que eu compartilhe mais do que me pede.


Soube que Sebástian se mudou. Saiu às pressas, por necessidade do destino que matara a sua mãe. Vi no escaninho a sua carta que iniciava com os dizeres: "Ao melhor amigo" e contava da urgência de sua troca de cidade.


O recepcionista, nesse mesmo dia, disse que Sebástian falava de minha pessoa com deferência. Que eu o escutava e que minhas palavras eram sábias.


Fiquei surpreso! Foi aí que me ocorreu: Sebástian sempre me visitou. E, o mais impressionante, sempre me achou "em casa", mesmo quando eu não estava lá.



segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

Seja bem vindo, mas...



 Claudernécio, novo na cidade, queixou-se para o Sr. Américo “da padaria” sobre a receptividade dos citadinos. Disse não ver alegria nos olhares e carinho nas ações para com os de fora. Sr. Américo, que sempre vivera nesta alva cidade afirmou nunca ter observado tal acontecimento. Oras, quem diria diferente, vociferou ele. Todos são iguais, os daqui e os de fora. E pediu para Claudernécio dar licença para a Sra Maria, uma anciã que sempre morou no bairro e é cliente desde sempre. Claudernécio entendeu.


domingo, 19 de fevereiro de 2017

outros. outros?




Saio da sala furtivamente para não ser incomodado. Pé ante pé tracejo um rumo de duas salas: o banheiro e o refeitório. Espio. Esgueiro-me. Apresso a marcha. Mas sempre sou trombado por um "Oi! Queria falar com você". Minha arquitetura dos passos sós tomba ante demandas alheias. Ah!!! Como queria ter férias permanentes daquilo que incomoda os outros. Os outros?

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Desconvencido


Convencido da "desimportância" das convenções, Macalael estreou seu tênis alaranjado no casamento de seu melhor amigo. Bombardeado por olhares e comentários ele tirou o tênis a fim de poupar os olhos alheios do marcante tom laranja. Os comentários e olhares se multiplicaram. Macalael se desconvenceu. 

quarta-feira, 13 de julho de 2016

Ela é muito(s)



Mirtes era a vizinha. Mirtes era mais.(!)
Morava na casa em frente. Devia roçar os 18, 5 anos a mais que eu. Como bem sabia, talvez sem ter consciência, ela dominava a cena noturna que se passava as 21 horas. Todas as noites, com exceção dos sábados dedicados à visitar a avó com seus pais, ela resplandecia em sua "cena única" de fechar a janela. Nunca algo foi igual aos cabelos de Mirtes sendo encurralados por seus dedos que o jogavam de lado a lado pouco antes da janela de seu quarto se fechar. Ninguém teria a capacidade de fazer igual a cerimônia  de eternos minutos para então olhar-me e mostrar que sabia ser  admirada. Uma nesga! Um quinhão! Uma pitada! Uma quase nada que era tudo. Mirtes sabia... deveria saber. Mirtes habitava a casa da frente e meus sonhos adolescentes. 
Todo dia encontrava-a no ponto de ônibus quando passava de carro com a família. Ela e seus quase metro e meio distribuídos em mais de 80 quilos. Detalhes! Realidade em excesso? Esta era a Mirtes vizinha, que em nada ameaçava a Mirtes das 21 horas. Noturna!Deusa Nix
Desde lá descobri que uma pessoa é muitos! 

domingo, 3 de abril de 2016

Que(M)?

Todas as árvores penderam para o mesmo lado. Quem manda é o vento. Todos no recinto assentiram e se convenceram. Que(M) é o vento?