quarta-feira, 18 de novembro de 2015
Calor... humano
Ao ser questionado sobre qual a coisa mais importante de sua vida, Joãozinho cravou: - o ar condicionado.
- Sim - disse a professora - neste calor ele se faz de fundamental importância.
- Nem por isso - ele retrucou. - Antes de resfriar ele me aquece.
- Como assim?
- Seu barulho... nunca me abandona.
domingo, 18 de outubro de 2015
Ó madrugada...
Ó madrugada sinistra. Esconde-se em aleivosa blandícia, acoitada pelo escuro e silêncio.
Nutre-se daqueles que se esgueiram e das coisas proibidas. Será a lua tua guardiã? Permite apenas a penumbra.Já visitada, mas ainda inóspita.
Madrugada que acolhe segredos. Constitui lugares, mas que não são morada. Ó madrugada, a lua e tu, parceiras, mostram para esconder.
quinta-feira, 16 de julho de 2015
domingo, 21 de junho de 2015
palavra ouvida
Dias atrás tive uma
grata surpresa: encontrei Dona Germana. Uma senhora gorda, rotunda até,
beirando os 60 e que nunca vi de cabelos soltos. A impressão que tenho, é que
seu cabelo é a única coisa presa que tem. O resto? Tudo solto. Dona Germana
verte qualidades, que no encontro com o outro, dão este contorno especial à sua
pessoa.
Ao ver-me, veio em
minha direção e cobrou-me com “atitude” o fato de estar desaparecido. Já fazia
tempo que não aparecia. Oras, isso não era coisa de se fazer – dizia ela - pois
temos que valorizar aqueles que nos são estimados. Ouvi-a sem mencionar um
“ai”, nem piscar. Gostava de suas palavras! Não sei bem ao certo por quê? Acho
que ela tem o poder de ver a alma, mesmo que não saiba disso.
A alma se vê através
das palavras, especialmente aquelas que servem ao interlocutor. A alma aqui se
equivale às palavras que tocam fundo. Aquelas as quais o sujeito se reconhece.
E como mencioná-las? Aposto que muitos já se questionam em qual capacitação
fazer para adquirir tal habilidade. Como comprá-la?
A resposta que mais
facilmente chegaria a nossa cabeça é: falando. Oras, de tanto tentar, um
momento, se acerta! Chama-se ensaio de tentativa e erro. Pois, para falar à
alma, mais que desfiar palavras, é necessário saber ouvir.
Dona Germana ouvia como
ninguém! Qual técnica? Segredo? Talvez nenhum! Ao que parece, ela efetivamente
nutria um interesse vivo em ouvir as histórias contadas pelos outros que
encontrava vida afora.
Recentemente lia um
artigo sobre pesquisa acadêmica, ao qual o autor expunha sua proposta
metodológica, que assim se resumia: ler o texto tentando fazer as perguntas que
o autor se fez para desenvolver seu raciocínio. Tentar ouvi-lo a partir do
escrito. É fácil constatar que isso é o contrário, quase o oposto, de ler
fazendo suas próprias perguntas a partir do que foi lido! Percebem a
diferença?!
Hoje, a preocupação
geral é em falar bem! Mal se sabe que para fazer vínculo com um outro é
necessário permitir o encontro de dois (ou mais) discursos. E para isso, não
basta falar e pausar. Não é a mecânica da fala que define o encontro. É o
interesse despertado no interlocutor!
Esta especial atenção
as singulares formas de um sujeito dar sentido à sua vida, constitui parte
importante do ofício de um psicanalista. Ele leva isso às últimas
conseqüências, produzindo efeitos que em nenhum outro tipo de conversa se vê. É
a aposta que os humanos podem inventar e reinventar suas vidas a partir do que
está posto enquanto limite, incluindo aí as limitações que dizem respeito a
ouvir e ser ouvido.
A palavra que acerta, nasce do outro e não do que eu
acho sobre o outro. A diferença quase passa desapercebida, mas indica a
existência de vetores que se opõem. Não há palavra que se “encaixe” para um
sujeito, que não saia da relação com alguma parte da própria história do mesmo.
Acho que aí residia a
impressão de “soltura” que brotava de Dona Germana: solta ao vento das palavras
alheias, sem impor um significado de antemão. Pronta para dar lugar a um
sentido que não é óbvio nem tampouco marcado pelos auspícios da mesmice.
segunda-feira, 1 de junho de 2015
Ajutório
Fiz um ajutório. Percebi aquele olhar cabisbaixo, mirando-me em ascendente; as mãos esticadas, sentado ao relento...
Sem trocar uma palavra, comovido com a cena, puxei uma nota de valor mediano e lhe entreguei. Senti-me confortável, pois havia feito algo. Ahh, sem falsa modéstia, se todos fossem assim como eu, o mundo seria diferente.
Quem é ajudado num ato de ajutório? O que aquele que ajuda enxerga de si em outrem?
Algo, de fato, aconteceu. Meu mundo ficou diferente. Ajudei ao ver naquele sujeito algo estranhamente familiar.
Fiz-me em ajutório.
domingo, 17 de maio de 2015
Quem nunca se afogou...?
Lázaro aprendeu a nadar por volta dos 7 anos. Aprendeu incentivado pelo mais velhos: tomaram-no pelas costas da beirada da lagoa, levaram-no aonde não "dava pé", viraram-no em direção da areia e disseram: "acho bom você nadar pra lá, se não vai se afogar!". E, empurraram-no em direção à margem. Lázaro nadou. E tomou água pela boca e narinas, afogando-se!?
Ele aprendeu a nadar apesar de não gostar de água. Nunca mais foi à lagoa. De tanto não gostar de água, Lázaro, hoje com 20 anos, sente-se sufocado quando está sob o chuveiro.
Ao falar do assunto no almoço de família, lembrou-se do momento que aprendeu a nadar. Associações forçadas!? Todos riram dele, "empurrando-o" para fora da festa, na sala de T.V. Neste momento, verteu líquido de seus olhos. Lázaro sentiu-se como que "afogado".
domingo, 26 de abril de 2015
Em busca da saúde (perfeita!?)...
Estou com um novo projeto: quero dedicar-me ao cultivo da saúde.
Fui à academia de musculação para me informar dos horários e o
instrutor que me atendeu disse que o importante nesta prática não é ganhar
músculo. É, sim, ter saúde.
Consultei-me com a nutricionista para obter orientações de como
me alimentar corretamente. Ela asseverou que o principal é a alimentação ser saudável.
Fui ao médico. Ele pediu-me para fazer exames, auscultou,
observou e me fez perguntas de como me sentia em relação a algumas funções de
meu organismo. Justificou-me dizendo que era para saber como estava indo minha
saúde.
Confuso, achei que era hora de conhecer-me melhor: fui ao
psicólogo. Ao relatar minha busca e seus resultados, ele sugeriu-me praticar
exercícios de relaxamento. Estes ajudariam em minha saúde mental.
Cheguei em casa, liguei a TV, e passava um programa sobre o
tema saúde. Neste, foram divulgadas dicas para se ter uma vida saudável: não
fumar, não beber, não exagerar na gordura, não dormir pouco, não ter nível alto
de estresse, e, para os não atletas, que é meu caso, não exagerar no exercício
físico.
Admito que a confusão é minha, mas será só eu que não sei ao
certo o que é essa tal de saúde?
domingo, 12 de abril de 2015
TEMPestar...
Tem dias que a vontade não chega. O ser, mesmo admoestado pelo desvario de apenas estar, deixa-se levar pelo tempo que passa. Queria eu descobrir a morada do tempo, para sempre convidá-lo a atrapalhar a zona de conforto que representa um dia igual ao outro.
segunda-feira, 6 de abril de 2015
aquele olhar...
Soube do AVC depois de seus familiares já o terem levado embora. Envergonhei-me de não ter dado meia volta no corredor e ter me aproximado para interagir. No entanto, não esqueço do olhar daquele senhor. Olhos falantes. Pulsavam! Flamejantes! Algo excedia a anatomia.
De um organismo disfuncional, flechou-me um olhar único que, mesmo sem lugar, fez algo funcionar(-me).
Um olhar de verdades que não cabiam em si. Mistério? Talvez. Isso não significa que deva concubinar-se com o anonimato. Ao Isso, deve-se dar vez. Com outros.
Há que existir quem veja, mas enxergue; há que existir quem ouça, mas escute.
domingo, 29 de março de 2015
Imperícia de estar pronto
Resolvi não arrancar mais as folhas de meu caderno com escritos equivocados. Ao invés de eliminá-los, deixei-os para consulta. Provas de um momento único que merece ser reconhecido, mesmo que não enseje orgulho. Que seja prova de minha imperícia de estar pronto.
sábado, 28 de fevereiro de 2015
Esperar! Esperar? Esperar.
Inibição é manter-se num sossego desassossegado.
É não poder agir. Esconder-se no mesmo?
Inibição é não bancar. É se abancar.
quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015
aDeus
Deus ajuda a quem cedo madruga.
Só se Deus quiser.
Deus é forte.
Deus te abençoe.
Vá com Deus.
Deus é pai.
Que Deus te dê forças.
Deus é mais.
Deus me livre!
...
Pelo amor de "Deus", deixem Ele em paz!
quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015
Praia, sombra e água...
Neste verão quase não aproveitei a praia. Ela não se ofereceu apetitosa. Mais que seus encantos, seu intenso movimento. Mais que o barulho das ondas, os carros e suas filas. Mais que a areia branca, bitucas de cigarro e latinhas. Mais que descanso, preocupações com a falta d'água. Mais que tranquilidade, o agito de alcandorar na areia.
Quero praia!
...
Não quero essa praia!
domingo, 1 de fevereiro de 2015
O trabalho dignifica... as férias?
Comovido com o retorno ao habitual, um emprego com folha ponto e carga horária semanal fixa, ele sentiu-se incomodativamente bem! Sorriso amarelo, compenetrado, andar reto e ritmado, advogavam em favor de um trabalhador bem adaptado e feliz, ávido por bem fazer as tarefas que exigiam o seu cargo.Alimentando-se do adequado cumprimento de seus afazeres, ele, desde este primeiro dia de retorno, colocou-se a pensar em como os dias junto "dos seus", na praia, haviam sido marcantes. Nada habitual. E neste itinerário, já mobilizou-se a fazer "X" em seu calendário. Faltavam apenas 364 dias para suas próximas férias. Tão esperadas! E, pôs-se a aguardá-las, trabalhando.
quarta-feira, 28 de janeiro de 2015
O tempo dos humanos é Outro...
Como era linda aquela jovem mulher! Pois ela se achava feia. Por um sem número de vezes rogou ao seu (D)eus, como se este não tivesse nada mais importante a fazer, para mudar-lhe a face e todo o resto. Depois de muitas primaveras, passadas mais de seis décadas, nove cirurgias plásticas, quatro aplicações de botox, ela estava se achando uma jovem linda mulher(!). O tempo dos humanos é Outro...
quinta-feira, 22 de janeiro de 2015
Vale a pena tentar?
Estou triste. O mesmo de sempre se repetiu. Como lidar? Pois, tento! Atraso. Repenso. Vou ao banheiro. Devaneio. Ignoro. Converso. Suspiro. Desconverso. Faço comidinha. Teclo. Oras! Tudo isso é um só e sempre mesmo: "tento". Está na hora de parar de tentar, pois, raras vezes, tentar é fazer.
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