domingo, 14 de dezembro de 2014
Comid(a)normal...
Por que não como todos
os dias minha comida predileta?
Porque deste modo, ela
deixaria de sê-lo.
Tornaria-se comida do dia a dia... normal.
O cotidiano é só o lugar do normal?
quinta-feira, 11 de dezembro de 2014
Papai Doel...
O que me irrita não é o tom apelativo da propaganda. Tampouco a predominância do branco, vermelho e purpurina. Nem os jingles dilin, dilin, dilin...
Também não são aos velhinhos com sacos e barbas compridas. Sem problemas com os pinheiros e as luzes que piscam. As renas, bichos estranhos, soam simpatia. Não é a bela voz de Simone entoada em cada esquina na música "então é natal".
O que me irrita é a mesmice disso tudo.
domingo, 30 de novembro de 2014
Novos?
Quantas vezes despi meu
olhar de conhecimentos
vencidos. Foram-se uns quantos
para que outros novos fossem
vistos. Desde já:
novos/vencidos?
terça-feira, 25 de novembro de 2014
Sapatos...
Rendo-me a necessidade de
sapatos novos. Eles resolvem
o problema de instituir novos
passos. Mas e se eu quiser voar...?
segunda-feira, 10 de novembro de 2014
De onde vem a música do piano?
No piano o “tio” toca Asa Branca, de Luiz Gonzaga. O cenário? Uma rodoviária, o terminal do Tietê. Com muitos nordestinos e turistas estrangeiros da copa. Ao fundo do piano, um telão com o programa domingueiro do Faustão. Aquele que toca, de repente, para. Já é a segunda vez que testemunho isso. Aqueles que se sentam ao redor, num bar, permanecem inertes. Nenhum assovio, riso, tampouco palmas... Nenhum olhar em direção ao belo piano preto, e sua música.
Ao parar de tocar, o senhor levanta-se e em meio a um ritual, recolhe
o banco sob o piano, fecha o acesso aos teclados, abaixa a tampa e sai sem
fitar ninguém. Passa por mim que o observo atentamente. Ele nota. Corresponde
com o olhar. Estava esperando isso? Digo: “parabéns!” Ele responde: “Obrigado!
Tá bom?!” Falo: “Sim, muito bom!” Ele segue para fumar seu cigarro. Dou conta
de seu retorno quando reinicia a tocar. É um tocador! Vejo que ele olha
discretamente em minha direção, flagrando-me acordar de meu sono cotidiano ao
ouvir sua música.
Uma única visada. E, parte a tocar. Pelo tempo que se segue, não
levanta mais a face. É algo entre ele e o piano. Será? Para fazer sentido,
sempre um terceiro é necessário.
Ahh! A música do piano. De onde ela vem? Das cordas do instrumento,
da técnica fruto da iniciativa individual do artista, ou do reconhecimento que
se dá pela via da terceiridade?
Faustão anunciou o intervalo comercial. Aproveitei, peguei minha
bolsa e saí. Segui, tocando-me...
domingo, 21 de setembro de 2014
COMENTÁRIO LIVRO "A MENINA QUE ROUBAVA LIVROS"
A morte como narradora das cenas que se passam no enredo do
livro “A menina que roubava livros” apresenta um paradoxo deveras interessante.
A morte, digna representante do irrepresentável, do real que se impõe apesar
das palavras, é autora de histórias que bem mostram como os “fins” engendram a
novidade. Por mais que passe desapercebido, como se fosse um fluxo contínuo e
retilíneo da mesmidade, o novo se impõe pelos efeitos que produz e que só podem
ser reconhecidos, portanto significados, a partir de novas representações, no “só
depois”. A morte como narradora mostra a partir de seu papel como o fim e o
início são interdependentes. Abrir mão de ter controle absoluto sobre uma
continuidade ou desfecho, dá lugar ao desenlace impulsionado pela “novação”. A
grande história da segunda guerra mundial, cenário do livro, é sustentada por muitas
outras histórias. São muitos inícios e fins que constituem o início e fim deste grande conflito.
sexta-feira, 22 de agosto de 2014
O que faço com o tempo?
O que faço com o tempo?
Este mesmo que corre ao ritmo
do ponteiro andarilho de um
mundo só.
Sigo-o. Ou, crio outros mundos.
Este mesmo que corre ao ritmo
do ponteiro andarilho de um
mundo só.
Sigo-o. Ou, crio outros mundos.
domingo, 27 de julho de 2014
Acontecimentos
Atentado do Taleban.
Rolezinhos.
O irmão do prefeito faleceu
faz pouco. Treino de Aikido. Supercine.
O celular não se aquieta.
Umas cervas. O notebook. O relógio.
A chave do carro. Os
controles (TV, DVD, som...).
Obama fala sobre a
espionagem. A copa do mundo é, em breve.
A bicicleta está na garagem.
Comida.
O padre/cantor falou de sexo
no programa de TV. O boken está ali.
As fotos da afilhada chegam
pelo WhatsApp.
Tá quente aqui! Como sempre
nessas épocas.
Curso de francês pelo
celular. O trânsito é intenso na esquina.
Eu te amo meu amor, por
celular.
Não sei ao certo: sou local
ou universal?
segunda-feira, 23 de junho de 2014
COMENTÁRIO LIVRO "O ESTRANGEIRO" - Albert Camus
O ESTRANGEIRO (Albert Camus)
Neste romance de 1942 Camus consegue mostrar como seu personagem principal vive como se fosse expectador de sua própria vida. Como se as vivências não passassem disso e não pudessem se inscrever no registro da experiência (que considera o papel do Outro e o posicionamento do sujeito). O "tanto faz" repetido reiteradas vezes pelo personagem ao ser interpelado pelos outros, só demonstra como ele se aferrou às vivências do cotidiano, aceitando seu destino que tem como autor outros, que não ele. Como dizia ele:
"Estava sempre dominado pelo que ía acontecer, por hoje ou por amanhã". Ou:
"Toda o problema, ainda uma vez, estava em matar o tempo".
quarta-feira, 11 de junho de 2014
Amuletagem
Os amuletos protegem? Quero
crer que sim. Pois os utilizo.
Adotei-os. Estão comigo.
Influenciam-me. Sinto-os falando à mim.
Sempre dizem coisas boas.
Alertam-me para algo que já está ali.
Talvez não reconheceria. O
amuleto mostra. Só o que se quer ver?
terça-feira, 20 de maio de 2014
ProntoSocorro
Este
é o termo composto que caracteriza o lugar: Pronto Socorro. Sugestivo, não?
Pois se o próprio “socorro” alude a um imediato, que auxilia no encaminhamento
de uma situação, o “pronto” somente reforça a ação a ser implementada.
Eis
que, neste lugar do atendimento breve, passei horas difíceis, onde o sofrimento
se dava por um mal anunciado, uma dor física bem localizada e um mal por ser
falado, que só poderia dar-se a identificar em sua própria anunciação: uma dor
da alma.
Alma
é o nome que se dá ao terreno das idéias e das emoções. Terreno caudaloso, por
vezes confuso, inventor de mundos e viveres marcados pelo jeito próprio de seu
criador.
De
que padece este ser? Apalpadas... hipóteses.
Picadas... hipóteses. Toques...
outras hipóteses. Observações... mais
hipóteses. E, procedimentos!... que, por fim, comprovam ou não as hipóteses.
Tanta preocupação com as hipóteses... e onde fica o sujeito? Irremediavelmente
preso ao mal anunciado. Um mal tão bem localizado (no organismo) que chega a
justificar por si só os procedimentos. O sujeito encontra-se aí, assujeitado aquilo que lhe é dito por
outrem, não qualquer um, a partir da técnica adequada.
Se
neste cenário lhe fosse dado voz, ao sujeito, talvez esse assim se
pronunciaria: “Pronto. Socorro!!!!!!”.
sábado, 26 de abril de 2014
Lugar
O
passarinho gorjeou lá do alto anunciando o raiar do dia. Dei mais alguns passos
e os cães de uma casa da cercania, em dupla, ladraram informando minha
passagem. Na esquina, vi o ônibus amarelo em aceleração: roncava rumo ao seu
destino. Todos tão certos do que faziam. Parece que todos e tudo se destinam a
um lugar próprio. Seu lugar ou qualquer lugar?
quarta-feira, 26 de março de 2014
A Vilma e o JoZÉ
Hoje vi a Vilma. Ela e seus cabelos
ruivos. Ela é única. Sempre me cumprimenta da mesma forma, dizendo: - Oi,
José!, enfatizando meu nome. Sempre que a vejo, lembro do filme “Coração
Valente”. Acho que são seus cabelos eriçados. Uma moda só dela. Vilma é o
William Wallace da rua.
Ela tem uma causa: diariamente leva
seu cãozinho, o Zé, para passear. Dizem que apartamento não é lugar para cães.
Eles não podem se mover livremente. Vilma mora num apartamento de tamanho
modesto, desses que se chamam flats. Será que os cães não gostam dos flats? Zé
nunca reclamou. Pelo menos Vilma nunca assim se referiu a ele. Mas, mesmo dessa
forma, ela sempre reservava o tempo de passeio para ele(s).
Hoje Vilma estava diferente:
semblante triste, cabisbaixa, olhos de cor semelhante aos seus cabelos. Não
resisti. Fui à Vilma e perguntei se algo havia ocorrido! Ela respondeu: claro!
Você não vê? Meu cãozinho sumiu! Não havia notado. Enrubesci! Sempre a via com
seu companheiro e não dei por sua falta. A repetição vicia o olhar. Tentei
confortá-la. Acho que de tudo que disse, nada funcionou. Ela estava muito
condoída com a situação. Antes de sair, dei-lhe um forte abraço e olhando em
seus olhos disse que torcia para que achasse seu cãozinho. Vilma agradeceu, só
seu cão a olhava assim nos olhos. Ao se despedir, falou-me: - Tchau, “Zé!”.
Pouco tempo depois vi Vilma com outro cãozinho.
sábado, 15 de março de 2014
Dê-me luz!
DÊ-ME LUZ
A
luz da cozinha queimou. Na prática, não é um problema muito sério.
Especificamente ali, no lugar com cheiro de gordura, há vários substitutos para
a lâmpada, se bem que nenhum a sua altura: a luz da geladeira quando a porta se
abre, o isqueiro que é usado em situações onde há falta total de luz, as bocas
de gás do fogão...
Consegui
fazer tudo que era necessário para alimentar-me e limpar os utensílios
utilizados na tarefa. Pensei: se fosse a lâmpada do quarto seria muito pior.
Sentiria uma espécie de abandono. Algo essencial corria o risco de não ser
feito: não poderia arrumar a roupa para o dia seguinte, a pasta com seus vários
apetrechos e nem mesmo ler àquelas páginas obrigatórias antes de dormir.
Algo
me incomodou! Mas a penumbra da cozinha teria tal poder? Já disse, por a mais b,
que a lâmpada da cozinha é a mais inútil de todas.
Já
na derradeira vez que adentrei o recinto da geladeira em busca de água para
levar ao quarto, apercebi-me tocando maquinalmente mais uma vez o interruptor.
Oras? Qual vez que fui à cozinha e não havia “tentado” ligar a luz?
Parado
em frente a porta aberta da geladeira, lembrei-me de uma história contada por
meu pai sobre as vaquinhas das pastagens de sua infância. Com o pôr do sol,
todas elas retornavam sozinhas ao estábulo, onde eram ordenhadas e alimentadas
com ração. Sempre pelo mesmo caminho. Greta de areia fina onde não nascia
grama.
Iam
e vinham sempre demarcando o mesmo traço. Quando algo se interpunha em meio ao
caminho natural, uma cobra por exemplo, os bovinos paravam, esperando que o
tempo depusesse a seu favor. Chegaria a hora da cobra sair. Todos, uma hora,
têm de ir.
Sempre
o mesmo traçado. A mesma linha. O mesmo percurso... Quantos de nossos gestos
são maquinais? Disfarçados, talvez, por sorrisos ou roupas diferentes?
Toco
o interruptor. Sei que não é para acender ou apagar a luz. Para que então? Não
sei se quero saber a resposta. Talvez ela implique na minha saída do rastro.
quinta-feira, 6 de março de 2014
"palavreando... é o nome
Inspirei-me na palavra devanear. O termo significa
fantasiar, imaginar, pensar vagamente em. Dizer ou imaginar coisas sem nexo
(oras, que o nexo venha depois). Pois, sem muitos devaneios, é o termo que
melhor se aplica, agora, a este espaço de imagens e letras: quero tornar
público, marcando através de palavras, alguns de meus devaneios. Os temas e
assuntos podem variar ao infinito, mas sempre transpassados pelo campo teórico
da psicanálise. Falo através dos escritos para ser escutado. Falo para escutar(me).
O nome desse exercício? “Palavreando...
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