DÊ-ME LUZ
A
luz da cozinha queimou. Na prática, não é um problema muito sério.
Especificamente ali, no lugar com cheiro de gordura, há vários substitutos para
a lâmpada, se bem que nenhum a sua altura: a luz da geladeira quando a porta se
abre, o isqueiro que é usado em situações onde há falta total de luz, as bocas
de gás do fogão...
Consegui
fazer tudo que era necessário para alimentar-me e limpar os utensílios
utilizados na tarefa. Pensei: se fosse a lâmpada do quarto seria muito pior.
Sentiria uma espécie de abandono. Algo essencial corria o risco de não ser
feito: não poderia arrumar a roupa para o dia seguinte, a pasta com seus vários
apetrechos e nem mesmo ler àquelas páginas obrigatórias antes de dormir.
Algo
me incomodou! Mas a penumbra da cozinha teria tal poder? Já disse, por a mais b,
que a lâmpada da cozinha é a mais inútil de todas.
Já
na derradeira vez que adentrei o recinto da geladeira em busca de água para
levar ao quarto, apercebi-me tocando maquinalmente mais uma vez o interruptor.
Oras? Qual vez que fui à cozinha e não havia “tentado” ligar a luz?
Parado
em frente a porta aberta da geladeira, lembrei-me de uma história contada por
meu pai sobre as vaquinhas das pastagens de sua infância. Com o pôr do sol,
todas elas retornavam sozinhas ao estábulo, onde eram ordenhadas e alimentadas
com ração. Sempre pelo mesmo caminho. Greta de areia fina onde não nascia
grama.
Iam
e vinham sempre demarcando o mesmo traço. Quando algo se interpunha em meio ao
caminho natural, uma cobra por exemplo, os bovinos paravam, esperando que o
tempo depusesse a seu favor. Chegaria a hora da cobra sair. Todos, uma hora,
têm de ir.
Sempre
o mesmo traçado. A mesma linha. O mesmo percurso... Quantos de nossos gestos
são maquinais? Disfarçados, talvez, por sorrisos ou roupas diferentes?
Toco
o interruptor. Sei que não é para acender ou apagar a luz. Para que então? Não
sei se quero saber a resposta. Talvez ela implique na minha saída do rastro.
Josué
ResponderExcluirParabéns por este espaço cultural e de crônicas. Mais um instrumento de pesquisas para toda comunidade. Quanto mais dados, mais informações, assim podemos mudar este país e fazer com leiam mais.
Abraços
Adalberto Day cientista social e pesquisador da história em Blumenau.
Obrigado, Adalberto.
ResponderExcluirAbraço!
Este é, dos seus textos, um dos meus preferidos.
ResponderExcluirEste é (o blog), dos seus criados, um dos mais esperados.
Você é meu esperado - preferido!
Que se mostre a palavra!
Gostei muito Josué! Parabéns!
ResponderExcluirAdoro fazer estas leituras... A sua foi uma delícia degustar!
ResponderExcluirParabéns! Estarei atenta...
Abraços!!!
Com certeza amigo... Desafios são sempre muito bem-vindos!!!! Adorei a leitura... E que se faça a LUZ!!
ResponderExcluirOi pessoal!
ResponderExcluirObrigado pelos comentários! Josue
Sensacional!!!
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