Hoje vi a Vilma. Ela e seus cabelos
ruivos. Ela é única. Sempre me cumprimenta da mesma forma, dizendo: - Oi,
José!, enfatizando meu nome. Sempre que a vejo, lembro do filme “Coração
Valente”. Acho que são seus cabelos eriçados. Uma moda só dela. Vilma é o
William Wallace da rua.
Ela tem uma causa: diariamente leva
seu cãozinho, o Zé, para passear. Dizem que apartamento não é lugar para cães.
Eles não podem se mover livremente. Vilma mora num apartamento de tamanho
modesto, desses que se chamam flats. Será que os cães não gostam dos flats? Zé
nunca reclamou. Pelo menos Vilma nunca assim se referiu a ele. Mas, mesmo dessa
forma, ela sempre reservava o tempo de passeio para ele(s).
Hoje Vilma estava diferente:
semblante triste, cabisbaixa, olhos de cor semelhante aos seus cabelos. Não
resisti. Fui à Vilma e perguntei se algo havia ocorrido! Ela respondeu: claro!
Você não vê? Meu cãozinho sumiu! Não havia notado. Enrubesci! Sempre a via com
seu companheiro e não dei por sua falta. A repetição vicia o olhar. Tentei
confortá-la. Acho que de tudo que disse, nada funcionou. Ela estava muito
condoída com a situação. Antes de sair, dei-lhe um forte abraço e olhando em
seus olhos disse que torcia para que achasse seu cãozinho. Vilma agradeceu, só
seu cão a olhava assim nos olhos. Ao se despedir, falou-me: - Tchau, “Zé!”.
Pouco tempo depois vi Vilma com outro cãozinho.