segunda-feira, 10 de novembro de 2014

De onde vem a música do piano?




No piano o “tio” toca Asa Branca, de Luiz Gonzaga. O cenário? Uma rodoviária, o terminal do Tietê. Com muitos nordestinos e turistas estrangeiros da copa. Ao fundo do piano, um telão com o programa domingueiro do Faustão. Aquele que toca, de repente, para. Já é a segunda vez que testemunho isso. Aqueles que se sentam ao redor, num bar, permanecem inertes. Nenhum assovio, riso, tampouco palmas... Nenhum olhar em direção ao belo piano preto, e sua música.

Ao parar de tocar, o senhor levanta-se e em meio a um ritual, recolhe o banco sob o piano, fecha o acesso aos teclados, abaixa a tampa e sai sem fitar ninguém. Passa por mim que o observo atentamente. Ele nota. Corresponde com o olhar. Estava esperando isso? Digo: “parabéns!” Ele responde: “Obrigado! Tá bom?!” Falo: “Sim, muito bom!” Ele segue para fumar seu cigarro. Dou conta de seu retorno quando reinicia a tocar. É um tocador! Vejo que ele olha discretamente em minha direção, flagrando-me acordar de meu sono cotidiano ao ouvir sua música.
Uma única visada. E, parte a tocar. Pelo tempo que se segue, não levanta mais a face. É algo entre ele e o piano. Será? Para fazer sentido, sempre um terceiro é necessário.

Ahh! A música do piano. De onde ela vem? Das cordas do instrumento, da técnica fruto da iniciativa individual do artista, ou do reconhecimento que se dá pela via da terceiridade?


Faustão anunciou o intervalo comercial. Aproveitei, peguei minha bolsa e saí. Segui, tocando-me...

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